Eles não tinham corpos.
Formavam-se no silencio.
quando as palavras não cabiam
Eram feitos de letras
e encontravam-se nas reticências
carregadas da emoção que continham.
Não tinham gestos, mal se mexiam
Não tinham cores, não sabiam..
Visitavam-se todos os dias
sem precisarem bater às portas
das suas casas, pisar nas pedras,
no asfalto ,nas ruas, sem sapatos
e contemplar o horizonte mais largo.
que a vida lhes anunciava.
Numa cidade, quieta , silenciosa, viviam
sem sinos de igreja , sem ruas, sem caminhos
Mesmo assim ,muitos vinham
ás praças, em festa.
Sem os ver,
celebravam , pois
os sentiam ,nas almas,
os viam.
Não possuíam mãos, nem dedos
mas desejos
que esculpiam corpos
na argila da afinidade que sentiam
Eram névoas
Eram nuvens
e desenhavam seus planos de viagem:
serem gotas, serem suor, serem lagrimas
sim... queriam!
Não precisavam de olhos
mas na cegueira em que viviam,
desejavam ver o verde
dos olhos, o verde do mundo,
mar bravio, ondas, tsunamis
( assim diziam)
Tocaram-se e foi fundo
Que estranho é esse mundo..
Sem dia a dia.
Pois já era negro o crepúsculo,
quando amanhecia
Só possuíam uma lua prometendo em sonho
Lhes dar corpos e nomes
Feitos das suas histórias
que amavam e
mal conheciam.
Susana Meirelles