domingo, 28 de dezembro de 2014

Uma P(arte)



Arte- Jonty Hurwitz

UMA  (P)ARTE


O passado é tempo parado
Adormecido nos calendários
Mas revivido 
em tintas de fogo
quando uma palavra
o acende e chama.

Não sei abandoná-lo 
no lugar de letras mortas.
Devo-lhe os pés, passos e braços
os abraços apertados
os laços já apartados..

Devo-lhe lembranças, culminâncias,
felicidades
e aquela doce  espera 
de que se cumpra algo 
entre desejo e destino.
É ele a  matéria prima.
Devo-lhe toda alegria 
Toda dor
 e todo desatino.

Todos os dias o passado 
bate solene à minha porta 
em lembranças, fragmentos,
despedaçado,
em partes, pedaços.
Em partes decompostas
Como postas.

E dele liberto-me postando-me inteiro,
nas esquinas do desejo,
da fé, do medo.
Sou um lobo à espreita
De sangue novo, vermelho vivo.
Conservo afiados os dentes, as garras
a ânsia de carne nova
nova vida

Devoro a liberdade 
de criar-me, de reinventar-me
de refazer, de ignorar, de duvidar..
E faço-me
dia a dia, passo a passo,
a cada passo, 
em passos precisos.
(dos meus  pés preciso).

Todo rascunho lá
Parece ter sido desenhado, escrito
E agora , cubro-os com tintas
Das aventuras, do inesperado 
e de tanto sonho e sentimento..
Fazendo sentido.

A tudo reescrevo, repinto
São essas as tintas:
Fogo, sangue, ar e vida.
Em um estranho quadro habito. 
Dele sou parte.
só um pedaço...
Viver é tão belo!
Viver é arte.


 Susana Meirelles
Resposta a desafio poético em imagens sugeridas por Tania Contreiras.



domingo, 26 de outubro de 2014

Versinhos de (quase) amor...




Absorta



Quanta sorte

É encontrar-te
Só e
Solto.
Tão absorto!
Aí eu só 
sorvo-te.
solta 
e só
Sorvo-me.
Sou 
Solta.
Contigo
sou 
Tão absorta!
e só
Absorvo-te.


Susana Meirelles




Coração nas mãos


Cuidado com o sonho 
Que tens em tuas mãos.
Ele fala de mim,
revela quem sou.
Cuidado com o sonho
que tens em tuas mãos.
Adormecida,
fecho os olhos para a dor.
Cuidado com o sonho
que tens em tuas mãos.
Não vês?
Estrelas caem 
Suavemente,
quando tuas mãos o tocam.
Cuidado com o sonho...
não sei se sabes, 
mas o que tens em tuas mãos
é o meu coração.

Susana Meirelles






Pela Pele


Deixe estar
que um dia,
em mim há de brotar
poesia pela pele
pelos pelos
pelos poros
só para lhe ofertar.
E palavras suaves
intensas, inteiras
sobre mim
sobre você
sobretudo
sobrevoarão.
Ah! Quando eu for
inteiro um poema,
O amor afogado
em coloridas asas
se revelará.
E transformando
dor em poesia
pelos poros
pelos pelos
pela pele,
o nosso amor,
sobreviverá

Susana Meirelles

Uma Vez






Para Wilson


Apenas uma vez
ao  telefone
a sua voz
escutei.
E senti 
Vibrando em mim
Seus ais
Seus sóis
Seus mis.
Apenas uma vez
Na varanda
Regando plantas,
ouvi e sorri.
Sua voz tinha sins
E sons de esperança
Tinha acalanto 
E uma poesia 
minha.
Apenas uma vez
Entre flores,
Sua voz 
Bebi
E o que ouvi
Estava muito perto 
de mim.

Eterna Espera

Imagem WEB

Um dia pousarei suavemente,
Na tua eterna espera.
E será quando já terás quase  desistido
de mim. 
( não sei porque é assim...)
Areias , desencontros
Caminhos, abismos, absintos
Tuas tintas..
Sei o  quanto me coloriste
em janelas, espelhos
outros olhos e  telas
Ansiando por mim.
(Psiu. Sossega!)
Um dia pousarei suavemente,
na tua terna espera
E minhas asas se  tornarão
(a)penas 
o teu morno,
tão sonhado
branco
e terno
voo 
da 
liberdade.


Susana Meirelles

Resposta ao Desafio poético em imagens sugeridas por Tania Contreiras

sábado, 25 de outubro de 2014

Névoa


Imagem; Web


É imenso o mundo onde me abandono
sem teus braços.
Névoa que sou, te envolvo, me enlaço.
Queria apenas encontrar-te numa esquina, 
nas sujas vidraças,
reconhecendo-te, simplesmente, 
nos meus traços.
Todo dia quebro, sem razão, 
o espelho em que me faço.
Toda noite, em sonho, 
orbito só e nua,
sentindo teu descaso.
Sem ti, as entranhas da terra 
ou céu estrelado, 
nada são, como eu,
névoas são.
Mas sei, bem sei,
que no mais além ou no mais profundo,
é só a mim que busco 
em teu encalço.

Poema de Um Beija-flor


Eu sou aquele
que colhe das manhãs
os sumos de sua beleza.
e de luz, cego, sigo,
Sorrindo, digo sim
a todos,
e a tudo vejo,
com olhos de beija flor.

Leve,
levo
por onde vou,
seus sumos,
na pele,
perfumes
Sua essência ,
seu calor.

Nossos segredos em  tons de rosa,
(Guardo, mas extravaso).
E de rosas delicadas,
Faço calendários.
Os dias, claros  dias,
Tornam-se pétalas multicor.

Vou passando,
Pétala
por
pétala
vou  deixando,
vou
vou
voo
Multiplicando
um pouco de você
Em tudo,
Em tudo
em tudo.
(Quase tudo de mim).

Alguns amigos, olham, cismam.
Outros  sorriem e se calam
Pois reconhecem no olhar alado,
Na fala suave,
e no perfume de jasmim,
Que começo meus dias
Todos os dias,
num jardim.


Susana Meirelles

Resposta ao desafio poético em imagens sugeridas por Tania Contreiras 

Devoção

:Arte: David Ho

A vida segue 
entre pedras e passos
Corpos e pernas
Palácios e favelas.
No peito, um buraco
Uma vertigem , uma imagem
(Quase nada ..diria você)...
Um nada que faz falta.
Olho para o céu 
E à beleza desse amor me devoto.
Olho para o inferno, emudeço.
No mundo que restou sem você
Há muito ruído e ..
é  silencio.
E, como se faz preces, 
só e  sem as vestes,
um peito inteiro e aberto
( Quase nada..)
apenas todo amor 
em devoção,
oferece.

Susana Meirelles

Resposta ao Desafio poético em imagens sugeridas por Tania Contreiras

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Os Sapatos Vermelhos da Noiva



Os Sapatos Vermelhos da Noiva

Para Lucimar Aren



Alguém disse, certa vez, que ela é assim tão bonita porque seu nome une luz e mar. Pode ser,  pois,  só um feliz casamento poderia ter gerado Lucimar.
Lucimar é bela: morena, cabelos lisos e pretos, em corte Chanel que esconde e destaca os seus olhos grandes e expressivos. Tem um coração alegre. Além de alegre, sem medidas. Você não sabe o que é um coração sem medidas? É aquele que se sente feliz quando outro coração também está feliz. Por isso é sem medidas: ele se amplia para se juntar com outros. É um coração que bate num compasso diferente: “ sou feliz e faço feliz ; sou feliz e faço feliz”. É assim que bate o coração sem medidas de Lucimar.
 Eu gosto de escutar seu coração e de escutá-la falar: tem umas piadinhas que ela conta e repete, sempre com  uma  risada gostosa, mesmo que ninguém ache muita graça. Têm também muitos casos que ela vai lembrando e contando  com um leve sotaque meio do sul, meio do norte. São histórias de corações que se juntaram ao dela: são pacientes – ela é fisioterapeuta - são amigos, parentes, colegas, conhecidos, vizinhos, desconhecidos.
Frequentemente, eu a escuto em silêncio. Algumas vezes, de carona em seu carro, que ela enche de pessoas e, como seu coração, é também sem medidas. Muitas vezes, escutando-a,  fico com vontade de chorar.
Dirigindo, ela vai contando suas historias de situações em que se fez presente para as pessoas de alguma forma. São histórias de solidariedade,  de superação, de generosidade. Enquanto ela fala, em silêncio, eu a observo: ela conta porque seu coração está alegre, para compartilhar o prazer que sentiu; conta como se suas atitudes não fossem tão diferentes do que é comum; conta como se todos nós já soubéssemos o que ela sabe: que a generosidade faz  o coração ficar mais alegre..
E ao final de cada história, ela justifica a sua atitude:
- Ah! Tive dó... A gente está no mundo para ser feliz e para fazer os outros felizes.
.           E porque se muito dá, Lucimar também muito recebe da vida: são presentes, oportunidades, homenagens, carinhos, olhares, palavras e muita sorte. Acredito que deve ser obra da gratidão que vive rondando a sua vida.
            Um dia desses, ela nos contou a história de um casamento. A noiva lhe confidenciou um segredo: talvez por algum conto de fadas, ela não sabia o porquê, sempre sonhou em casar-se usando sapatos vermelhos. O dinheiro porém, já estava acabando... será que Lucimar teria um para emprestar?
O  coração de Lucimar bateu descompassado.
Uma rápida olhada na vitrine logo em frente, e lá estava o sapato perfeito. Caro? O que importava? Teria preço fazer feliz o coração de uma noiva?
- Ah gente, tive dó... A gente está no mundo para ser feliz e fazer as pessoas felizes!
Foi um feliz casamento e a noiva estava linda com seus sapatos vermelhos e as rosas vermelhas nas mãos. Eu mesma vi a foto: o sorriso também era vermelho e branco.
  Outro dia, li uma revista que trazia na sua capa, estampada em letras vermelhas, o anúncio de uma reportagem: “A ciência da generosidade”. Um renomado biólogo da Universidade de Harvard,  o prof. Edward Wilson, estaria chamando a atenção da comunidade cientifica, ao ousar complementar a teoria da evolução de Darwin. Seus estudos comprovariam que as comunidades que prevalecem  são aquelas onde .predomina a cooperação. Isso quer dizer, que apenas a lei do mais forte e a competição não explicaria a sobrevivência do homem na Terra. Para ele, o comportamento altruísta teria sido crucial para a evolução das espécies e teria decretado a supremacia humana no planeta..
Você sabe o que é “comportamento altruísta”? É o jeito como a ciência chama o coração sem medidas.
Lendo isso, imaginei os homens primitivos, naqueles tempos de grandes catástrofes, de desconhecimento das forças da natureza, de lutas pela sobrevivência. Imaginei que, em determinado ponto do tempo, um deles deu as mãos ao companheiro, auxiliando-o. Este deve ter compreendido  e , da sua forma, disse pra os outros, como Lucimar:
-Ah gente! Tive dó...a  gente está no mundo para ser feliz e fazer as pessoas felizes  
Os cientistas estão descobrindo que um coração sem medidas faz toda a diferença e nos fez caminhar com mais beleza, no rumo da evolução, como sapatos vermelhos nos pés de uma noiva.
Olho o álbum de fotos do casamento. Uma, em especial, me chama a atenção: a igreja está toda decorada de vermelho e branco; a noiva com rosas vermelhas nas mãos , ao lado de Lucimar, deixa aparecer- como quem nada quer- um pedacinho dos seus sapatos vermelhos, sob a longa cauda do vestido branco. As duas estão de mãos dadas; os dois sorrisos são vermelhos e brancos e os dois corações, também vermelhos, estão felizes sem medidas: um está feliz porque realizou um sonho e  o outro está feliz porque realizou o sonho de alguém.
Fecho o álbum e me calo. Sinto vontade de chorar e digo baixinho para meu coração:
- A gente está no mundo para ser feliz e fazer os outros felizes. 


Susana Meirelles



sexta-feira, 25 de julho de 2014

Textos de Memórias 2 - Suspiros

                                                         



                                                                    

                                                          

                                          
                        Naquelas tardes já ensolaradas, ela me dava o seu calor na sua presença maternal e acolhedora. Eu  devia ter sete anos e amava aquelas longas tardes ao seu lado. Tardes que se iniciavam com a chegada da escola, depois do banho e do almoço. Ela costurava, tricotava, enquanto eu fazia meus deveres escolares. Depois das tarefas, eu passava a entrar no mundo dela, como se investigasse o meu futuro e ao mesmo tempo desejasse guardar para sempre aqueles momentos, como um presente. Eu folheava seus livros de receitas, os moldes das roupas que costurava, suas linhas, seus agulhas, catava alfinetes que caiam ..e ficava ali sentada, investigando de onde vinham as suas mágicas.                           Aos meus olhos, minha mãe era mágica. Ela transformava ingredientes diferentes em pratos deliciosos; tecidos e linhas em lindos vestidos ricamente bordados e nossos rostos e sorrisos em desenhos a lápis em preto e branco. Ela criava histórias e transformava minha vida, trazendo sempre um pouco de poesia e brincadeiras para o cotidiano.
                Foi ela quem me ensinou a arte das transformações e a beleza da criatividade. Ela me criou, criando.  Ela transformava meus  dias em melodias.. todos os dias eram diferentes, todas as tardes tinham sua graça. Os dias não eram iguais, já que ela sabia , como ninguém, colocar neles uma pitada de graça, costurando-os com fantasia, desenhando-os com alegria..
                Não  sei se sabia o que fazia, mas ela me ensinava a ver beleza e encanto no que me cercava. Ao seu lado tudo tinha uma história, um personagem, um ensinamento.
                Numa dessas tardes, lembro-me, ela fazia suspiros: pedia que eu pegasse ovos na geladeira. Separava a gema, batia as claras em neve e  ia acrescentando açúcar, um pouquinho de limão ia batendo enquanto aquela espuma como neve e doce como açúcar – a “clara em neve” ia surgindo de suas mágicas  mãos. Depois ela colocava as gotinhas daquela neve na assadeira, levava ao forno e eu esperava ansiosa pelo resultado.
                - Mãe, Como é o nome desse doce?
                - Suspiros, ela respondeu
                - E  por que suspiros se chamam suspiros?
                Ela não hesitou:
                - Porque é tão doce! Quando a gente coloca na boca fica tão feliz que sente vontade   de suspirar...suspirar bem fundo..de alegria!
                - Ah...! suspirei eu, feliz...



                                                                         Susana Meirelles






Textos de Memórias 1- O Grampeador









O GRAMPEADOR


                

                    Ele sempre estava rodeado de papéis. No alto da mesa, sentava-se à escrivaninha que ficava no mesmo quarto onde dormia com minha mãe, já que o outro era meu e da minha irmã. Esse era mais um quarto dos livros, pois tinha duas enormes estantes do chão ao teto, circundando toda a parede. Aquilo, aos meus olhos de menina, era uma imensidão. Era como se alguém tivesse desenhado nas paredes livros coloridos e cheios de letras, que eu tentava decifrar, aprendendo a ler. 
             Meus pais dormiam entre os livros como se esses lhes dessem licença para descansar. Eu já percebia que minha mãe, por ciúme do tempo que eles lhe roubassem o marido, não gostava dessa convivência. Ela desejava mais espaço, talvez, na vida dele e  sonhava com um apartamento maior, de três quartos. Meu pai se esforçava,  economizava dinheiro para comprar, compreendendo que, na vida, deveria dar espaço para tudo.
                Enquanto isso, ela tinha de dividir seu amor com a coleção de Machado de Assis, a coleção de Freud, inúmeros livros pesados cheios de pequenos números. Meu pai era professor, matemático, estatístico. Nem sei se nasci para gostar de números, mas, ao longo da vida ,passei a amá-los, já que eles lembravam meu pai.
              Os números, como era ele, são silenciosos. Não são ruidosos e inquietos como as palavras, que pulam dentro das linhas dos livros e carregam as emoções, as lágrimas, as dores e a alegria de quem as escreve. Os números são plácidos, exatos, discretos. Meu pai era numérico, organizado, preciso, disciplinado. Minha mãe  era uma linda palavra, gorda, amorosa, cheia de luz e pulava de uma página a outra, no livro da sua vida. Eles brigavam, mas se amavam e se complementavam como letra e número.
           Ler, para ele também era uma alegria e minha mãe nem sempre entendia isso, quando sentia necessidade de sua companhia para os passeios, para pular o carnaval, para ir às festas de largo. Cada um tinha o seu jeito de ampliar o mundo  e isso eles não entendiam.
                Eu amava os dois .
           À noite meu pai chegava, tirava o paletó, colocava chinelos e escutava música: a bossa nova  era, à época, a nova “bossa” nas rádios, nas vitrolas. Ele escutava feliz, sorrindo,  como quem se banhava naquilo de que sua alma precisava..  
                Eu sentia que para ter um lugar junto ao meu pai, fazer um pouco de barulho no seu silêncio, eu precisava experimentar, provar, saborear  o mundo dele.  Assim, eu  cantava para ele todas as noites, eu o acompanhava para gravar suas músicas e já entendia de belezas que se situavam num lugar diferente da alegria. Ele me ensinou o valor da poesia,  mesmo as tristes. E pelas músicas eu ouvia meu pai, sua musica silenciosa e discreta... como um número.       
                Sentado à sua escrivaninha, ele me carregava para estar ao seu lado, eu devia ter uns seis anos,  e lá ficava entre os papéis e a máquina de datilografia, que guardava mistérios. Mistérios que eu tentava manusear, tocar.
                Numa noite dessas, ele me deixou usar o grampeador.  Duas pilhas de papéis mimeografados: eram provas que os alunos esperavam  no dia seguinte e ele me pediu para ajudá-lo . Feliz,  por fazer algo de tanta importância, fui juntando as folhas.
                E eu as unia, unia, unia de duas em duas e grampeava
                Talvez ali eu unisse dois mundos, talvez aproximasse devagarzinho sentimento e pensamento, número e letra,  homem e mulher, sol e chuva, dia e noite, sol e lua, casa e árvore, casinha com porta e janela, pai e filha. Talvez unisse os gostos diferentes e decifrasse números e letras,  lágrimas e sorrisos, pai e mãe... eu e meu pai
                - Cuidado com o dedo, filha. Advertia, protetor.
                E eu ia juntando dois em dois, unindo, grampeando para sempre, tornando tudo inseparável até o fim dos montinhos de papel, até o fim da noite, até o fim da vida, escutando a bossa nova...ali, lado a lado com meu pai..
                Como era  bom organizar de dois em dois, os sentimentos...


Susana Meirelles








terça-feira, 15 de julho de 2014

Serie Gente - A moça da Janela




A Moça da Janela

(Para Ana Karina Menezes Lima)

 A moça sorri da janela
e olha o mundo de lá
( o mundo dela).
Tem uns olhos claros,
suas janelas,
De uma cor difícil de explicar...

A moça sorri da janela
E com aquelas suas janelas
pergunta:
- “Quer entrar?”

Muitos olhos passam por ela
E na janela, é tão bela,
Que a vida comemora,
desenhando lá
onde ela mora,
uma borboleta bonita,
(de beleza colorida),
e  uma árvore verde e bela
só para ela ver
da janela.

A moça sorri da janela
E lá, onde ela mora,
tem amor e tem amora.

Meus olhos passam por ela
E como os outros pássaros
sentem vontade de ficar
e olhar, com ela,
da janela
a vida passar.


Susana Meirelles

Lírio Branco











Brotei como um lírio.
Branco no riso
Superfície azulada
dor silenciada...
De onde vim
estranhas entranhas
Peixes nadam na lama
urnas, escuras
uma secreta e bela
caverna submersa.
Ah! como chama
Como clama!
Susana é o nome
da alma que ama
no fundo de mim.

Susana Meirelles

Por uma Canção Derradeira







Aceito o silencio que você impôs à nossa morada.
Vi seus gestos gastos 
e aqueles espaços
abismando nossos olhos.
Aceito tuas notas dissonantes,
nelas também há vida ,
pulsando 
melodiosa.
Aceito o silencio que você impôs à nossa morada.
rompo  os laços, as cordas
rasgo antigas partituras
De verde, ainda a saudade.
Há saudade,
brotando do árido solo
onde desabrochavam teus lírios
de beleza,
a nossa melodia do dia –a- dia..
Aceito o silencio que você impôs à nossa morada.
não digas nenhuma palavra
não quero ser salva.
pois além desta  solidão
deste rasgo no peito,
da dor de uma imensa paixão,
eu escuto o meu violino- coração,
que delicadamente canta
e o teu silencio, encanta
compondo só, nesse solo
nossa derradeira  canção.



Susana Meirelles