domingo, 9 de junho de 2013

Poesia em imagens II- Poemas de um Beija-flor





Poesia em Imagens II- Poemas de um Beija-flor
Desafio Poético de Tânia Contreiras


POEMA DE UM BEIJA FLOR


Eu sou aquele
que colhe das manhãs
Os sumos de sua beleza.
e de luz, cego, sigo,
Sorrindo, digo sim
a todos,
e a tudo vejo,
com olhos de beija flor.

Leve,
levo
por onde vou,
seus sumos,
na pele,
perfumes
Sua essência ,
seu calor.

Nossos segredos em  tons de rosa,
(Guardo, mas extravaso).
E de rosas delicadas,
Faço calendários.
Os dias, claros  dias,
Tornam-se pétalas multicor.


Vou passando,
Pétala
por
pétala
vou  deixando,
vou
vou
voo
Multiplicando
um pouco de você
Em tudo,
Em tudo
em tudo.
(Quase tudo de mim).

Alguns amigos, olham, cismam.
Outros  sorriem e se calam
Pois reconhecem no olhar alado,
Na fala suave,
e no perfume de jasmim,
Que começo meus dias
Todos os dias,
num jardim.



Susana Meirelles





  

P A S S A P O R T E

Busco-lhe  entre minhas paredes
impregnada está toda a casa
Da sua presença.
Seu cheiro no meu corpo
Ainda sinto, atravessando-me
Nas almofadas, seus fluidos
Seus suores, úmidos
Nossas palavras ainda ecoam
E nos corredores, falam-me.
Além da  geografia,
Que muito nos engana,
No meu corpo- passaporte,
sua imagem é  fotografia.
Por isso  passo a  porta
Erguida pelo medo
Atravesso minhas fronteiras
e nesse  voo
até você
 vou.


Susana Meirelles






VERDE MUNDO



Azul é o mundo de todos,
Só o meu é verde
Seu olho, meu mundo,
Perdido num branco universo
Cheio de estrelas.

Seus oceanos salgados
Mares bravios, agitados
Tão verdes que me tragam,
Ou mansos lagos
Seus ritmos.
Marítimas são suas correntes
Cativantes.

Sua terra,
Continentes, trópicos
Câncer e capricórnio
Suas linhas e nossos signos,
Nos orientando
Localizam o chão
Firme, onde piso.

Quero a força verde de suas matas
Quando quase morro
amo suas florestas
 mistérios e pântanos
 adensando-me
suas ilhas,
Guardando-me

Conheço todos os  verdes
Em  diversos matizes
 dos seus humores
seu húmus
seus sumos
suas raízes onde corre
seiva antiga
que faz crescer as avencas
de seus gestos contidos
e os girassóis,
que tão bem revelam
quem sou.

Mundo verde,
Desperta, olha,  
e me fale um pouco mais
sobre a Esperança.

Gira meu mundo
Gira o tempo
Giram todos os sóis
Pois quando ,distraído
você adormece,
Eu  giro só
Em torno
De sua órbita.


Susana Meirelles







ESPERA




Sua voz ao telefone
A minha voz emudece
No entanto, nos fios
do tempo  dessa espera
meu coração em festa,
Floresce



Susana Meirelles









APENAS



Apagam-se as penas.
Em silencio,
à pena escrevo
a sinfonia do seu corpo
tocando
O meu.
Leve
Leve
Leves
apenas
somos.
Ah! Como pena,
Toca-me.
Como pena,
Sinta-me.
Como leve pena,
leve-me.
Apenas.




 Susana Meirelles







Futuro do pretérito


Eu colheria lágrimas
gotas suas de orvalho,
até recolher toda a dor.
Atravessando  sua insônia
como lua, eu serenaria.

Eu acalmaria seus temores
Acolhendo-os no morno regaço.
Abriria janelas para despertar a sua coragem.
Como  manhã, como mãe,
eu amanheceria

Eu escutaria seus anseios
Ajudando-o a descobrir
um a um de seus desejos,
para um dia  com você  viver.
Um a um de seus sonhos,
eu cultivaria.

Eu embelezaria sua vida
com pétalas coloridas
das coisas que não se findam.
Com perfumes, com prazer
só para você,
Eu floresceria.

A mais bela das poesias
Para você eu seria.
Com o mel dos versos gentis
Rimando e amando
toques suaves  com palavras delicadas.
Sua vida, eu adoçaria.

Eu caminharia ao seu lado
Por pedras e campinas
espalhando sementes no caminho
até colher fruta no pé.
Com você, dia a dia,
eu amadureceria.

Eu viveria ao seu lado
Sob a chuva , sob o sol
Tão bela ,que aos olhos se agiganta,
Ou diminuta se torna
ao seu lado, eu viveria.
Até que num fim de tarde,
como flor,
nas suas mãos,
de pura alegria
eu feneceria.




Susana Meirelles










a

sábado, 8 de junho de 2013

Minha Infância




MINHA INFÂNCIA

 (Parafraseando  o poema ”Infância”  de Carlos Drummond de Andrade)



Meu  pai vestia  o paletó, ia trabalhar.
Em lugares que eram letras, não palavras
I B G  E , U F B A
 e eu soletrava , sem entender.
Minha mãe ficava em casa, comigo.
Minha irmã ia para a escola , onde eu queria estar.
Eu, menina, naquelas manhãs, entre figuras e letras
Lia devagarzinho “João Bolinha virou gente”
A história de um boneco feito de bolinhas,
Que um dia amanheceu menino.
Comprida história que não acaba mais.
No meio dia branco de luz, dona Rosa
A velhinha cega da janela em frente, chamava-me,
dizia que eu era a mais bonita flor do seu dia,
enquanto fazia  café.
Café preto que nem era ela
Café gostoso
Café bom.
Minha mãe me olhava, dizia baixinho:
 “Psiu..não pergunte como ela lhe vê
ela pode enxergar além, com o coração!”
E eu via: para a janela onde pousou uma borboleta azul
Ela apontava e, poética, dava um suspiro, que fundo!
Longe, meu pai aparecia
Voltando para casa,
No alto sem fim da ladeira
E eu esperava feliz para lhe mostrar  que eu já sabia
enxergar além das palavras, aprendendo a ler e escrever.
E eu não sabia que a minha história
era mais bonita que a de João Bolinha:
Eu também virava gente.

  

Susana Meirelles




Leite e Lágrimas


Macias são as mãos, as mantas
e o amor.
O calor do corpo,
acolhedor,
acolhe a dor.
Mãe amamenta.
A Luz do sol insiste nos olhos mal abertos.
Ao longe,
uma música suave
toca tanto
quanto as mãos, o leite.
Como a vida,
Convida-me.
Ó Vida! invade-me!
Quente como o leite.
De você, nada sei
mas já lhe sinto
nas entranhas.
Nesse espaço silencioso
onde uma aliança
se faz e me faz.
Aqui: luz e música.
Mãe, mãos e mantas
Imantam-me.
Uma dor e um amor
Me alimentam.


Susana Meirelles







Aurora


O coração descompassado
entre o medo e a sede
de saber.
As mãos pequeninas não respondem
a tanto que há em mim.
Como traduzir?
Amarelo, marrom, vermelho...
O desenho.
O sol cor de ouro
minha força, minha vida
ainda por descobrir.
Ali, atrás das pedras
timidamente ,revela-se
Eu aqui, sala de aula
A luz ainda escondida
vibrando , pulsando.
Minha aurora
entre um pedaço de giz
e lápis de todas as cores.



Susana Meirelles









Laços e Cercas


A menina ri
Alegre.
Entre laços e cercas.
entrelaces faz
com seu riso
e uma imensa doçura.
Amada é
essa menina,
nos doces laços que faz
em torno de si,
como cercas.
A menina abraça a boneca que ri
E também ri como boneca.
A menina entre risonha e triste,
(Como são as bonecas),
nem sabe
que sonha,
entre laços e cercas
em um dia,
rindo da boneca que foi
tornar-se real.

Susana Meirelles





DEZ ANOS

Recolhi das nuvens
um pouco dos sonhos
dos que gastam seu tempo
 a contemplá-las.
Corri pelo campo
espalhando-os
diluindo temores,
como fumaça.

Olho, recordo:
eram muito brancas
as nuvens no céu
dos meus dez anos.

Com a massa dos meus desejos,
gotas de chuva e  raios de sol
eu  modelava  o branco em flocos.
E  o que restava era muito azul.

Todos os  dias
A manhã sendo,
antes  que eu  olhe o céu
aquela  menina em mim, desperta
e faz perguntas
ao  meu coração.

Todas as noites
a noite sendo,
antes de dormir,
aquela menina  em mim
não entende minhas respostas
se cala e volta a sonhar.
Enquanto eu,
a dor meço.




                                                                     Susana Meirelles




O Tamanho do mundo


Danço
na ciranda do mundo
que ficou Maior do que quatro paredes
e tem muito mais do que quatro pessoas.
O mundo virou caleidoscópio,
girando, girando
nos braços da amizade.
O mundo cabe num caleidoscópio
da menina francesa
que me mostrou o tamanho que ele tem.
E, .na rede de sonhos e ilusões
que docemente se forma.
serei dançarina
terei asas para voar
além , muito além
das quatro paredes.
da vida minha
Eu, feliz ,ainda não sabia,
que o mundo, como caleidoscópio,
é mágico , mistura cores
nas suas surpreendentes
combinações.
O mundo é do tamanho do que se acredita,
por isso caberá para sempre,
na palma da nossa mão.



Susana Meirelles





Pares


Pares se fazem
em toda a parte
Circundam-me.
Menino e menina
Bem- me- quer
Mal -me- quer.
Parece que se aproxima um novo tempo
em que a vida vai me pedir
o que ainda nem sei dar.
Por enquanto, converso com passarinhos
e assisto meus desenhos animados.
No papel, meus desenhos ganham vida.
Animam-se.
Meu caderno está cheio de poemas
que recolhi por ai
desenhando flores e corações.
Ainda não quero ir
para o mundo dos adultos
Que conversam quietos, não se agitam como eu.
Prefiro brincar com a vida
treinando muito
 para viver
Depois.


Susana Meirelles






Crepúsculo


Na janela sinto a sua dor
e assisto ao meu crepúsculo, refletido em suas lágrimas.
De mãos dadas com você e com o sol do amor no meu peito,
daria tudo para presenteá-la
com a infância que tanto lhe alegra
e que abandono.
O tempo me afasta do seu doce colo,
do seu acalento
e daquela região mágica e colorida
das histórias que você criava
só para encantar o meu mundo.
Em breve, muito em breve,
O tempo nos afastará
E sei, o que você vê no meu crepúsculo
é a sua ida
refletida nesta lágrima
povoada de sombras.
Não , mãe,
não posso deter o sol que em  mim mergulha,
ele ressurgirá
fazendo-me mulher.
Mas aqui, agora, nessa janela, 
sei que assistimos a todas as cores
de um momento eternizado.