sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Futuro do Pretérito







Futuro do pretérito


Eu colheria lágrimas
gotas suas de orvalho,
até recolher toda a dor.
Atravessando  sua insônia
como lua, eu serenaria.

Eu acalmaria seus temores
Acolhendo-os no morno regaço.
Abriria janelas para despertar a sua coragem.
Como  manhã, como mãe,
eu amanheceria

Eu escutaria seus anseios
Ajudando-o a descobrir
um a um de seus desejos,
para um dia  com você  viver.
Um a um de seus sonhos,
eu cultivaria.

Eu embelezaria sua vida
com pétalas coloridas
das coisas que não se findam.
Com perfumes, com prazer
só para você,
Eu floresceria.

A mais bela das poesias
Para você eu seria.
Com o mel dos versos gentis
Rimando e amando
toques suaves  com palavras delicadas.
Sua vida, eu adoçaria.

Eu caminharia ao seu lado
Por pedras e campinas
espalhando sementes no caminho
até colher fruta no pé.
Com você, dia a dia,
eu amadureceria.

Eu viveria ao seu lado
Sob a chuva , sob o sol
Tão bela ,que aos olhos se agiganta,
Ou diminuta se torna
ao seu lado, eu viveria.
Até que num fim de tarde,
como flor,
nas suas mãos,
de pura alegria
eu feneceria.


Susana Meirelles

domingo, 17 de novembro de 2013

Kronos e Kayrós









Quando contado
pode tornar-se muito lento ou veloz
devassando sonhos,
promessas , certezas
e afastando-nos de nós.

Quando tem sentido
explode dentro do peito,
revelando quanto mistério há
no eterno de um instante
e na finitude.

Pouco sentido, 
passa de minuto a minuto,
diluindo-se nas horas, 
com a dor da transitoriedade 
e do efêmero.

Livre, passa como brisa , como música, 
num voo ,entrecortando o ar,
deixando no céu a marca
do inesquecível.

Vivido nos seus compassos e descompassos, 
traz o ritmo do coração,
das estações, dos ciclos
e das  eternas  
transformações. 

Transcendendo os dias e as horas do crepúsculo,
vivemos a sua perene  aurora:
é nascente, 
renasce,
revigora.

Pintado nos olhos em negras cores,
é  desenhado nos nossos rostos,
demarcado nos nossos passos,
passo a passo.
Passa sem alegria, 
passa como um lamento.

Temido e cronológico, 
sentimos com dor a sua passagem,
 conduzindo-nos à sua perda 
e a todas as ausências.

Impregnado em brilho no olhar, 
prolonga a vida, remoça.
Se desfaz, refaz.
Nele confiamos
pois transforma sonhos,
fazendo-se  presente 
em belos e inesquecíveis 
voos de borboletas,
dentro de nós.


Com o Tempo,
o velho pode ser novo.
O novo , envelhecer.
O começo pode ser o fim.
O fim, infinito.




II



O tempo é um, 
mas há muito tempo,
dois são os deuses a governá-lo
E duas são  formas de contá-lo.

Kronos , o deus devorador dos homens
governa o Universo,
nossos relógios e calendários.
Kayrós ,o elfo com asas nos pés,
É leve como brisa suave.
Surge em incalculáveis 
extraordinários e inesquecíveis
instantes.

Kronos conta e reconta.
É o tempo  que passa, 
tempo que se perde,
tempo que se ganha.

Kayrós vibra e sonha
É o tempo do momento presente.
tempo do eterno  instante.
Possui a leveza dos anjos
e das crianças.

Para Kronos há passado,
Há presente, há futuro.
Para Kayrós , apenas
- e isso basta- 
a eterna leveza  do agora.

Um dia, Kronos e Kayrós 
hão de cessar a luta,
e  dar-se-ão as mãos.
E o Amor com o poder de desgovernar  
a temível contagem de Kronos,
Há de fazer 
(como sempre faz) 
o tempo parar.
retroceder, 
avançar
em um único instante.

E então, entre suas mãos,
apenas a vida
inteira , profunda,
deslizando-nos,
diluindo-nos.
Entre a finitude de Kronos
e o infinito de Kayrós,
o tempo há de ser, 
- para sempre- 
nosso  eterno presente.



Susana Meirelles


Resposta ao desafio poético em Imagens TaniaContreiras Arteterapeuta

domingo, 10 de novembro de 2013

Versos ao Vento






Passatempo




O tempo vai grafando
as letras dos meus versos
escrevendo-me,
por mim passando.
Em palavras me desenha
embelezando-me.
Tão fundo
eu o sinto
poetizando-me.
Poético,vai
ultrapassando-me.
Só vivendo
eu vou vendo,
meu poema inteiro se fazendo,
biografando-me.


Susana Meirelles







Emergência

A espera antecede o verso
que emerge.
Entre tão cedo e tão tarde,
intercedo.
À caneta,  cedo.
No coração, tarde.
Um poema arde


Susana Meirelles




Versinho



Queria fazer um versinho
que falasse do meu carinho
mas com palavras,  nem sei dizer..
Queria lhe dar um cantinho,
como pássaro, fazer ninho,
com beijinho, tudo rimando,
bem bonitinho.
Mas só sei pensar no quanto amo
e fazer rima com meu engano,
de estar poetizando,
um amor que, por você não ver,
talvez nunca, vá me ler.




Susana Meirelles


segunda-feira, 4 de novembro de 2013

O Despetalado






Desde que me fiz teu,
passei a habitar teus azuis
e, em ti submerso,
fiz-me navegante
do teu mundo.

Vi, naufragados,
marinheiros viajantes,
teus amantes.
E, mais fundo, afogados,
dragões, ninfas  e sereias
habitantes teus
que mal conheces.

Deitei em  tuas espumas, na superfície,
tua pele
onde preferias estar.
Plácida, me acolheste em teu seio.
Ávido, explorei ilhas,
teus silêncios
e os peixes que traziam vida em abundância.

Deste ao meu corpo contornos mais  belos
e formas imprevistas.
Deste aos meus dias
sentido
e sentimentos ao coração 
envelhecido.
Deste aos meus cabelos sua cor viva
E às minhas veias,
tua vida.

Insensato, sacrifiquei caminhos, lugares,
atalhos mais fáceis ,
mais simples,
corações mais ternos, 
mais belos,
trocando tudo pela poesia
que os teus azuis me evocavam.

Desejei caminhar ao teu lado,
de sol a sol
e, à noite, dividir astros
-os reflexos deles em ti-
navegando sem farol,
quase afogando-me,
de cabeça, 
mergulhando,
sem razão,
 entregando-me.

Aqui, eu, poema em flor,
Vim oferecer-te.
Mas  só, fui
num frio marítimo
despertado.

Desesperado,
 bato à tua porta
chamo o teu nome.
Em eco,
o silêncio.
E a imensa solidão
das ilhas,
ao longe

Há uma paz silenciosa
O mar, tão plácido,
O azul , tão profundo.
Mas meu coração
está em pedaços.

Nunca estiveste aqui,
nunca estiveste em nada,
só no meu
(mar imenso, mar sem fim)
amor de  poeta.

Nada mais é tão fundo
Nada disso foi meu mundo.
Nesse mar  profundo,
ao longe, nadas.

Fui  despetalado.
E meus  versos,
desperdiçados.



Susana Meirelles